Provérbio chinês

"O professor abre a porta, mas quem tem de entrar é o aluno". Provérbio chinês

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Interessante! Qualquer semelhança, não é mera coincidência.

versão em português brasileiro

Pelo movimento slowscience

Pesquisadores, professores, nós precisamos urgentemente desacelerar! Vamos nos libertar da síndrome da Rainha Vermelha! Pare de querer seguir cada vez mais rápido. Pare de querer seguir cada vez mais e mais rápido, o que resulta apenas em estagnação ou até mesmo retrocesso. Na mesma toada do Slow Food, Slow City e Slow Travel, nós criamos o movimento Slow Science.
Olhar, pensar, ler, escrever, ensinar. Tudo isso leva tempo e nós temos cada vez menos tempo para isso, se é que já não perdemos completamente esse tempo. Dentro e ao redor de nossas instituições, a pressão social promove a cultura do imediatismo e do urgente. Com produções em tempo real, os projetos vão e vêm em um compasso cada vez mais rápido. E nossas vidas profissionais não são as únicas vítimas dessa pressão: um colega que não está sobrecarregado e estressado é visto como excêntrico, apático ou preguiçoso – tudo em detrimento da ciência. A Fast Science, assim como a Fast Food, prima pela quantidade acima da qualidade.
Nós multiplicamos nosso projetos de pesquisa para angariar fundos para nossos laboratórios, que muitas vezes estão em condições deploráveis. Resultado: assim que acabamos de desenvolver um programa e, por mérito ou sorte, conseguimos financiamento, precisamos imediatamente pensar na próxima proposta, em vez de nos dedicarmos ao primeiro projeto.
Como os avaliadores e outros especialistas também estão sempre com pressa, nossos currículos são corriqueiramente avaliados somente pela sua extensão: quantas publicações, quantas apresentações, quantos projetos? Esse fenômeno cria uma obsessão pela quantidade na produção científica. Resultado: é impossível ler tudo, mesmo dentro de uma especialidade. Assim, muitos artigos nunca são citados e talvez nunca sejam lidos. Nesse contexto, é cada vez mais difícil localizar as publicações e apresentações que realmente importam – aquelas em que um colega despendeu meses, às vezes até anos, aperfeiçoando – entre outras milhares que são duplicadas, recortadas, recicladas, ou até mais ou menos “emprestadas”.
Claro que nossa formação deve ser “inovadora”, obviamente de “alta performance”, “estruturada” e adaptada ao “desenvolvimento de novas competências”. É difícil identificar as mudanças apropriadas em um mundo em movimento constante. Como resultado dessa corrida frenética rumo à “adaptação”, a questão do conhecimento fundamental a ser passado adiante – conhecimento que, por definição, não se altera – não está mais na agenda dos cientistas. O que importa é estar em sintonia com os tempos e, especialmente, mudar constantemente para manter a máquina em funcionamento.
Se aceitamos responsabilidades administrativas (conselhos universitários, departamentais ou administração de laboratórios), como todos somos obrigados a fazer durante nossa carreira acadêmica, somos automaticamente obrigados a preencher um número sem fim de formulários, muitas vezes dando a mesma informação e as mesmas estatísticas pela enésima vez. Ainda mais sério, o resultado da burocracia generalizada e da “encontrite” – a última, com o intuito de manter a aparência de colegialidade enquanto, em geral, acaba por esvaziar sua essência – é que ninguém tem tempo para nada: é preciso avaliar a submissão que foi recebida hoje para que seja implementada amanhã! E enquanto fazemos dessa situação uma caricatura, essa realidade se aproxima.
Essa degeneração da nossa atividade não é inevitável. Resistir à Fast Science é possível. Nós temos a chance de construir a Slow Science, dando prioridade a valores e princípios:
  • nas universidades, a pesquisa é o motor da educação, apesar dos ataques repetidos daqueles que sonham em eliminar a pesquisa das universidades francesas. É imperativo preservar ao menos 50% de nosso tempo à atividade de pesquisa, que determina a qualidade de tudo o mais. Em termos concretos, isso implica a rejeição de qualquer atividade que venha a confrontar-se com esses 50%.
  • pesquisar e publicar enfatizando a qualidade exige que todos nos concentremos nessas atividades por um período suficientemente longo. Para esse fim, nós necessitamos de períodos regulares sem responsabilidades administrativas ou de ensino (o direito de se dedicar exclusivamente à pesquisa um semestre a cada 4 anos, por exemplo).
  • não devemos focar na quantidade no currículo. Universidades estrangeiras já apontam para este caminho ao limitar a cinco o número de publicações que podem ser mencionadas em submissões para doutorado ou uma vaga na universidade (“Reward quality not quantity”, Trimble, S.W., Nature, 467 : 789, 2010). Esse princípio pressupõe que devemos decidir, em colegiado e de forma transparente, como avaliar nossos cientistas pela qualidade de sua produção científica, não pela quantidade de publicações e comunicações.
  • nutrida pela pesquisa, a missão por excelência dos cientistas de uma universidade é passar o conhecimento adquirido adiante. Os membros dos institutos devem ter tempo para ensinar, através do aprimoramento de suas condições de trabalho. Quanto tempo é gasto em solucionar problemas práticos, muitas vezes triviais, e que estão além das atribuições de seu trabalho? O tempo gasto em tarefas administrativas e na “criação de modelos” deve ser reduzido. Os tão famosos “modelos” deveriam realizar apenas a tarefa de definir o currículo específico para uma disciplina em uma universidade. Não é necessário mudar esse quadro a cada quatro ou cinco anos, como é o caso atualmente.
  • em nossas tarefas administrativas, é preciso reivindicar tempo para estudar as questões que estão diante de nós. Para o interesse de todos, devemos analisar o conteúdo criticamente. Rejeite então a pequena democracia e colegialidade criadas ao votar em tópicos que, no melhor caso, só serão analisados superficialmente. Não há nenhuma razão para aceitar a ideologia da urgência, repetida ad nauseam pelo ministro e seus “administradores”.
  • De forma mais geral, nós não devemos esquecer que há vida fora da universidade. Nós precisamos de tempo para nossas famílias, nossos amigos, nosso lazer… para o prazer de não fazer absolutamente nada!
Se você concorda com esses princípios, assine a petição pela fundação do movimento Slow Science. Acima de tudo, permita-se um tempo antes de decidir assinar a petição ou não!
Joël Candau, October 29, 2010 (published July 17, 2011)
Tradução do inglês e do francês para o português: Janaisa Martins Viscardi (UNICAMP, Brasil)

Fonte: http://slowscience.fr/?page_id=68 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A mãe dos deuses

            Cidade acolhedora que recebe a todos de braços abertos, Manaus é uma típica cidade de oportunidades. Entretanto, padece, tal qual outras metrópoles brasileiras, de problemas seríssimos no que diz respeito a sua infra-estrutura, serviços essenciais básicos que a autoridades locais não se interessam em resolvê-los. O deficitário sistema de transportes é apenas um exemplo típico da falta de respeito com que os políticos locais tratam a questão. Enquanto isso, o povo padece dia-a-dia nos ônibus lotados, muito dos quais, sem a menor condição de estarem na ativa.

            Em artigo no jornal A Crítica de 10 de abril deste ano, o escritor Márcio Souza, afirmou estar sendo injusto com o continente africano por tê-lo utilizado, várias vezes como referência de mau exemplo ao comparar a capital manauara a esse continente. Márcio Souza chegou a dizer que os serviços oferecidos em Manaus, tinham um padrão africano. Ou seja, estes serviços aos quais o escritor se refere eram tão precários e ruins que tinham um padrão africano de baixa qualidade. Contudo, ao analisar os dados de índice de desenvolvimento humano daquele continente, o intelectual amazonense dizia que as cidades africanas é que deveriam evitar cair no padrão manaura. Isso porque os serviços oferecidos aos concidadãos de Nelson Mandela são superiores aos oferecidos em Manaus. Todos sabem dos graves problemas que afetam o continente africano. Entretanto, apesar disso, o poder público de muitas cidades africanas oferece serviços de qualidade a sua população. Não à toa o escritor citado afirma que: “Setor por setor nós apanhamos feio em matéria de civilização, educação e serviços oferecidos pelo poder público.

                E por que Manaus tem um baixo padrão de qualidade? Bem, essa é uma questão deveras complexa. Muitos afirmarão que é normal termos os terminais de ônibus imundos, sem oferecer o mínimo de conforto à população, termos as ruas da capital esburacadas com esgoto a céu aberto, dejetos de todos os tipos, com inúmeros vendedores ambulantes com seus mais variados artigos, desde agulhas, verduras a produtos tecnológicos. Uma cidade em completa desarmonia, com um trânsito cada vez mais caótico, banhada por um imenso rio, as voltas com problemas de abastecimento de água diariamente. Tudo isso, é considerado normal por muitos.

Outros afirmarão, contudo, que se trata de um problema de educação. Ao que tudo indica, esta afirmação parece estar mais condizente com a realidade local. Porque um povo quando tem educação, consciência de seus direitos e deveres enquanto cidadão, não só reivindica, mas, sobretudo, cobra de seus legisladores um posicionamento ativo quanto as questões relativas a sua cidade, ao espaço onde mora, trabalha, estuda, enfim, a sua vida como um todo.

Segundo fontes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2008, seis capitais concentravam 25% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, e, Manaus figurava entre essas capitais com 1,3%, ao lado de São Paulo (11,8%), Rio de Janeiro (5,1%), Brasília (3,9%), Belo Horizonte (1,4%) e Curitiba (1,4%). Observe que Manaus figura ao lado de cidades, que, historicamente, sempre estiveram a frente do desenvolvimento do país, com exceção de Brasília, até mesmo por conta de todo o investimento realizado nestas capitais pelo governo federal ao longo de décadas. Observe ainda, que, Manaus é a única capital do Norte/Nordeste que figura entre as demais do centro sul do país. Isso é revelador do quanto os cofres públicos desta capital arrecada, do quanto o manauara é trabalhador.

Em matéria comemorativa ao aniversário de Manaus, no dia 18 do mês corrente, o Jornal Em Tempo da TV de mesmo nome, afirmou que Manaus é a quarta capital mais rica com país!

Em sendo assim, onde está todo esse dinheiro? Bem, no melhoramento dos serviços públicos oferecidos a população, por certo, ele não está sendo utilizado. Ou você tem alguma dúvida quanto a isso? Basta você, caro leitor, que se deu ao trabalho de ler este artigo, olhar a sua volta. Tire suas conclusões.

Manaus completa 342 anos. A data por certo deve ser comemorada, mas acima de tudo, deve ser também de reflexão, de questionamentos e de tomada de posição! 2012 é ano de eleição! Não entregue seu voto a pessoas desqualificadas de senso público. Não entregue seu voto por apadrinhamento, por simpatia ou até mesmo por considerar determinado candidato “legal”. Manaus, você, nós, merecemos muito mais, porque produzimos muito mais e temos o direito de sermos melhor atendidos pelo poder público.

Políticos que não lutam por essa cidade na Câmara dos Vereadores, que não propõem projetos que nos beneficiem enquanto população, que não fiscalizam o Executivo e que não lutam pela diminuição de seus privilégios, não merecem o nosso voto.  

Na língua nativa da extinta tribo dos Manaós, Manaus significa mãe dos deuses, portanto, esta capital deve ser a mãe de todos os seus habitantes, não somente dos “deuses” que se assentam nos palácios oficiais da cidade e majoritariamente se servem dos bens públicos. Os filhos dessa cidade e todos os seus habitantes devem colher os bens da sua produção e não padecer pelo mau uso da verba pública, dos desvios, da corrupção de seus dirigentes e de parte da sua população.

Manaus merece mais!

Parabéns Manaus!



               







               

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Neste mês de outubro há datas comemorativas importantes a serem relembradas para a consolidação de sua importância na memória coletiva, pois,  muitas das vezes,  passam despercebidas enquanto significado representativo de lutas pela liberdade, democracia, melhores condições de vida, manifestações religiosas, que num todo, culminam na expressividade cultural de um povo, bem como por seus ideais no encaminhamento de suas vidas.
Essas datas, a priori, não devem ser relembradas tão somente por conta de possíveis feriados, mas também por terem sido instituídas por sua importância simbólica na história de seu povo.
Dentre algumas datas comemorativas deste mês de outubro, destacamos o dia 15 de outubro, Dia do Professor, e o dia 24, aniversário da cidade de Manaus.
Dia do Professor
Essa data tem sua origem no ano de 1933 quando a Associação dos Professores Católicos do Distrito Federal* resolveu festejar o Dia do Primeiro Mestre, devido à “primeira lei sobre o ensino primário”, ainda no Império, no ano de 1827, que havia criado as escolas de primeiras letras.
Segundo consta, essa data, 15 de outubro, foi concebida como uma tentativa de integrar em âmbito nacional o magistério católico, também com o intuito de incentivar a população a demonstrar o reconhecimento ao primeiro mestre, que, comumente, era esquecido, designado ao anonimato.
Posteriormente, a data tornou-se oficial incorporando novos significados, novos sentidos que passaram a sobressair em meio à ideia original, sem, contudo, invalidá-la. Até meados dos anos 1950, a data era marcada por homenagens a professores considerados exemplares, exaltando sua dedicação e abnegada “missão”. A partir desta década, a data passou a ser apropriada pela categoria para marcar posição contra os baixos salários.
Desta forma, por meio da consolidação da data como uma prática regular, a comemoração do dia 15 de outubro, passou a evidenciar a contestação entre a recompensa meramente simbólica e a financeira da profissão, já que, se reconhecia a importância da profissão, por isso, comemorá-la seria necessário, contudo, chocava-se com o vazio das “palavras de reconhecimento” dedicadas aos professores, tendo em vista os baixos salários da categoria. Assim, por sua vez, havia uma hesitação, uma alternância entre essas duas formas de recompensa e a desqualificação das atividades integradas entre si nos festejos do 15 de outubro, esboçando-as como um meio de dissimular os problemas enfrentados pela categoria em suas condições reais no exercício do magistério.
A década de 1950 é um marco para a transformação dos ideais das entidades que lutavam para que a data fosse reconhecida oficialmente tendo por intuito a melhoria do estatuto profissional do magistério. Percebendo que essa medida não contava com a contrapartida financeira, passaram a utilizar o Dia do Professor para expressar a insatisfação quanto às práticas governamentais, negando-se a participar das cerimonias oficiais. E assim, no ano de 1963, o magistério paulista deflagrou a primeira greve geral da categoria no Dia do Professor. Dessa forma, estabeleceu-se assim, uma disputa entre o Estado e as associações docentes pela apropriação da data para atribuir-lhes diferentes sentidos.
Na atualidade, como tem sido a prática dos Sindicatos em seu sentido basilar em relação à categoria às práticas dos governos? Como tem sido a prática dos professores quanto às inúmeras formas de dissimulação por parte do poder governamental concernentes aos problemas enfrentados pela categoria, além de seus contínuos baixos salários, e as inúmeras formas de cooptação enfrentadas pelo professorado?
É certo que avanços ocorreram, contudo, será que esses avanços se firmam na mesma proporção das necessidades e dos inúmeros desafios enfrentados pela categoria em seu dia-a-dia com os mesmos problemas sociais do passado em meio aos novos existentes? Vale a reflexão.